Aperitivo Clímax: dividindo dramas
Um convite espontâneo para falarmos da crise climática em nossas relações.
Queridas pessoas que leem o Clímax,
Feliz 2021!
Estava esperando ter uma newsletter completa para voltar das férias. Estou com três textos diferentes em andamento, mas por alguma razão, não consigo terminar nenhum. Sinal dos tempos.
Hoje li um texto que me fez querer mandar este email espontâneo e tentar começar uma conversa, apesar de saber que vocês não têm muito gosto pela interação. Ou será que têm? Tomara que sim. Ano novo, nova tentativa.
O texto em questão é The Climate Crisis Is Worse Than You Can Imagine. Here’s What Happens If You Try. da Elizabeth Wail para ProPublica. O texto é uma espécie de perfil de um casal, o cientista Peter Kalmus — figura muito presente no twitter climático — e sua esposa Sharon Kunde, e explora o quanto a crise climática e o modo diferente com o qual cada um deles enfrenta a questão afeta o seu casamento e a relação com seus filhos.
À primeira vista, pode parecer um pouco estranho misturar clima e relacionamentos pessoais, mas eu não acho que seja. Eu não sou cientista, nem especialista em políticas públicas ou economia, minha relação com a crise climática é, antes de tudo, pessoal. Eu sempre quis deixar isso claro aqui no Clímax, pois acho importante que a gente traga o problema para casa e que a gente possa falar dele também de forma emocional, não só racional. Afinal, a crise climática afeta todos os aspectos das nossas vidas, o nosso dia a dia, nossas relações e nossa saúde mental também. Além disso, seja porque agiremos para controlar a crise, ou porque a deixaremos tomar conta, nossas vidas irão mudar e isso é, sim, um problema também íntimo.
Por isso, acho o texto de Elizabeth Wail extremamente importante, e espero ver mais como ele no futuro. Embora minha intenção com o Clímax seja parecida, não acredito que tenha sido tão bem sucedida com a tarefa.
Acho que é hora de tentarmos juntos.
Se você lê inglês, eu peço com carinho que leia o texto através do link acima. Aos outros, tentarei resumir um pouco abaixo e traduzir alguns trechos.
Estou abrindo uma thread para que todos possam comentar depois de ler e quero perguntar:
Como a preocupação com a crise climática muda a sua vida pessoal? Como interfere nos seus relacionamentos? Como se manifesta no seu dia a dia e nos seus processos de decisão?
Acho que quando melhor falei disso foi no Clímax #12 sobre o dilema sobre ter ou não ter filhos, e no Clímax #6 sobre a culpa que sinto ao viajar de avião e a dificuldade em me livrar desse hábito. Mas tem muito mais que posso falar sobre o assunto, e vou deixar meu comentário na thread também. Inclusive, a próxima edição da newsletter que, se tudo der certo, deve sair ainda esta semana, parte de um questionamento bem pessoal meu sobre a minha espiritualidade ou falta de.
Vamos nessa? Não me deixem sozinha.
Sobre o texto The Climate Crisis Is Worse Than You Can Imagine. Here’s What Happens If You Try. ou A crise climática é pior do que o que você pode imaginar. Isto é o que acontece quando você tenta.
Peter Kalmus é um cientista que se preocupa muito, mas muito mesmo, com a crise climática. Ele enxerga claramente o potencial da crise para modificar completamente a nossa sociedade, despertar conflitos, gerar violência e nos fazer sofrer.
Sua forma de lidar com isso é radical para alguns, ele pensa e fala do assunto o tempo todo, tenta fazer o que pode para mudar o mundo e não se conforma com quem não faz o mesmo. No entanto, Peter não está sozinho, ele é casado e tem dois filhos adolescentes.
Sharon, sua esposa, vê as coisas de outra forma. Ela não acredita em "falar sobre o que você não está preparado para agir sobre", e ela não estava pronta para lidar com o desespero de não acreditar no futuro, um desespero que parecia fazer parte do seu marido. "Para que eu fique sã, há algumas coisas com as quais não posso lidar", ela diz.
O texto segue mostrando o quão difícil é decidir a forma correta de se agir em família. Desde o efeito da adoção de hábitos de baixo carbono em casa, como plantar sua própria comida ou usar um banheiro sem descarga para compostar nossos dejetos, até questões mais complexas como até que ponto preocupar seus filhos com o futuro, ou a necessidade de se guardar dinheiro para a aposentadoria, ou acionar o seguro contra-fogo depois de um incêndio florestal.
Todas essas ações e decisões afetam os membros da família de forma diferente, criando conflitos em suas relações e prejudicando o casamento em si. Além de tudo, a vontade de Peter de salvar o mundo tomava todo o espaço e acabava não permitindo que Sharon realizasse seus próprios desejos, como o de escrever um livro ou apenas de sair para uma corrida em paz.
Talvez você não se identifique com esse drama de casal, mas garanto que, se você se importa com ela, de alguma forma a crise climática já interferiu na sua relação com as pessoas ao seu redor ou consigo mesmo.
Você pode não saber como falar sobre clima com os outros, pode achar que se importam de menos ou demais (você pode ser o Peter ou a Sharon da relação), pode querer fazer mudanças nos seus hábitos que as pessoas com quem você se importa não entendem, como parar de usar sacolas plásticas, virar vegano ou deixar de voar. Você pode ter dúvidas sobre como criar seus filhos para o futuro que prevê, ou se deve tê-los ou não. Pode não saber o que estudar na universidade ou se sequer deve estudar. De repente você acha que o seu emprego contribui para a crise e não sabe o que fazer a respeito, ou você mudou de carreira justamente por isso. Pode ser até que você tenha um relacionamento a distância e não saiba o que fazer porque não quer a culpa de viajar tanto.
Sei que muitas vezes temos dúvidas e ansiedades que mesmo a nós parecem ridículas, mas ainda assim nos perturbam. Se preocupar com a crise climática não é fácil, tentar ter um impacto menor também não. Ser um bom ancestral é muito difícil no mundo em que vivemos.
Sentir que não estamos sós sempre ajuda.
Vamos dividir nossos dramas?
Lembrando que você pode escreve anonimamente, só presta atenção para ver se não está logado no substack antes de escrever.
Este é um aperitivo para o novo ano do Clímax, e eu vou adorar começar 2021 com a participação de vocês. Muito em breve chega por aí também a newsletter #37.
Até lá!
Obs.: Este texto foi tão espontâneo que veio sem revisão. Era agora ou nunca. Me perdoem por eventuais erros.