Clímax #8: Ressaca da COP25. Vem logo 2020.
Olá,
Na semana passada eu sugeri que o Clímax de hoje seria mais leve e confesso que é sempre um desafio. Se fui bem sucedida ou não, só vocês poderão dizer.
De qualquer maneira, já está mais do que na hora deste ano acabar, então vamos combinar de terminar mais cedo e nos vermos de novo só no ano que vem? Aproveitem o fim de ano para passar um tempo com aqueles que vocês amam, aquecer um pouco o coração e se fortalecer, aí voltamos a falar de problemas só no dia 10 de janeiro.
Feliz Natal e que 2020 venha em paz!
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Climão da semana
Ressaca de vinho espanhol A conferência de mudanças climáticas da ONU, COP 25, finalmente terminou no domingo passado com dois dias de atraso e deixou uma ressaca que trouxe consigo uma enxurrada de matérias sobre o seu fracasso, o que foi, o que não foi e o que poderia ter sido.
A verdade é ninguém saiu das discussões satisfeito, foi uma decepção generalizada. Até mesmo Ricardo Salles, que fez o que podia para atravancar as negociações, foi embora antes da hora para comer um churrascão e gravar vídeo culpando os outros países, deixando os negociadores brasileiros sozinhos na reta final.
O artigo 6, do qual falei bastante na semana passada e que trata do mercado de carbono, não foi resolvido, assim como a questão dos mecanismos de assistência financeira aos países pobres para que possam lidar com os impactos da crise. Ambos os tópicos ficaram na mesa e serão negociados novamente no ano que vem na COP 26 em Glasgow. E para alguns, esse resultado trouxe um certo alívio pois consideram melhor não ter acordo do que ter um acordo ruim.
Mas não podemos esquecer que negociações diplomáticas entre todos os países do mundo ao mesmo tempo não são fáceis mesmo. Neste artigo - que eu já gosto pelo simples fato de chamar o Bolsonaro de ‘sociopata climático’ - David Wallace-Wells sugere que uma possível solução seria um acordo somente entre os EUA e China, no estilo dos acordos nucleares entre EUA e União Soviética nos anos 80, que serviria de base para a ações de outros países. Outra sugestão que o autor menciona é a criação de uma organização internacional independente nos modelos da Organização Mundial do Comércio, que possa punir ou recompensar as ações climáticas dos países.
O fracasso da conferência fica mais evidente quando comparamos o que aconteceu dentro e fora das salas fechadas onde as negociações ocorriam. As ruas da cidade, que viu uma passeata de 500.000 pessoas (há controvérsias quanto ao verdadeiro número) e os corredores da Feria de Madrid, local do evento, se encheram de ativistas, muitos deles estudantes, além de um número grande de representantes de povos indígenas que se empenharam em fazer sua voz ser finalmente ouvida e mostrar que existe, sim, vontade popular para fazer as mudanças acontecerem.
Refletir e discutir
A Internet é a maior máquina movida a carvão do planeta, representando 10% da demanda global por eletricidade.
Um ano assistindo Netflix por uma hora semanal gasta mais energia do que duas geladeiras funcionando normalmente por 12 meses. Ainda assim, ninguém está nos pedindo que paremos de ver filmes e maratonar séries para economizar energia, pelo contrário, cada vez se produz mais conteúdo e mais se vende a ideia do ‘tem que ver’. E é claro que não para por aí, agora os objetos do nosso dia-a-dia também estão conectados. A ‘internet das coisas’ está colocando online tudo a nossa volta, o carro, a geladeira, até as luzes de casa. Cada vez mais compramos algo ou chegamos a algum lugar e somos obrigados a baixar um app ou conectar no wifi para fazer coisas básicas como abrir uma porta ou comprar um café. Nem os softwares ficam mais nos nossos hardwares, agora está tudo na nuvem. Mas por que?
Algumas previsões nos dizem que nos próximos 10 anos a internet deve aumentar sua necessidade por eletricidade chegando a 20% da demanda global, produzindo mais gases de efeito estufa do que o Brasil, perdendo apenas para os EUA, China e India. É mais um caso da tecnologia avançando rapidamente, procurando trazer vantagens, mas sem refletir sobre a sua vulnerabilidade e as consequências de suas inovações na sua própria longevidade. Pois acontece que a internet, além de contribuir para a crise climática, também sofrerá muito com ela.
No que o planeta esquenta, as florestas queimam e as cidades submergem, os nossos aparelhos também vão começar a falhar. Nos data centers do mundo, onde a maior parte da internet está armazenada, os custos de resfriamento e energia aumentarão exponencialmente. A frequência eletromagnética na qual o Wi-Fi se move passará por perturbações, afetada pelo aumento de intensidade dos raios ultravioletas do sol. Nos próximos 15 anos, os cabos costeiros que transmitem dados nos Estados Unidos ficarão submersos em água do mar. E os materiais que sustentam a rede, como os minerais raros, ficarão mais difíceis de se encontrar.
É possível que a internet se torne um recurso escasso pelo qual as pessoas lutarão no futuro, e que essa distribuição desigual acabe dividindo-a, criando assim uma versão para os ricos e outra para os pobres.
Para o artigo ‘Can the Internet Survive Climate change’ (A Internet poderá sobreviver as mudanças climáticas?), o jornalista Kevin Lozano conversou com especialistas de diversas áreas que estão tentando entender o problema, prever os possíveis cenários e encontrar soluções.
Uma das propostas que ele menciona é do web design sustentável, que busca diminuir a quantidade de energia necessária para manter um website, ou seja, retorná-los a leveza do passado. Para que isso seja possível eles acreditam que a publicidade nos sites precisa desaparecer, o crescimento do streaming de vídeos precisa desacelerar, as páginas devem ser menos lotadas de recursos e a vigilância corporativa precisa acabar.
Nós estamos vivendo a era de ouro dos dados baratos e as pessoas só começam a economizar água quando eles acham que há um limite do quanto eles podem usar.
A maioria de nós já se preocupa em ter menos, consumir menos, desperdiçar menos, mas são poucos entre nós que já fazem o mesmo no mundo virtual. Não nos damos conta que cada e-mail, cada clique e cada foto que postamos na rede está também ocupando espaço aqui fora.
Desastres da semana
Vocês já devem estar cansados de ver a Austrália por aqui, mas é incrível como o que está ruim sempre pode piorar. Nesta semana o país bateu o recorde de dia mais quente já registrado duas vezes, com a temperatura média do país chegando a 41,9 C na quarta-feira. Na cidade de Eucla a temperatura chegou a 49,8C no dia seguinte. É claro que esse calor só faz os incêndios piorarem, 800 casas já foram perdidas, a qualidade do ar está preocupante e boa parte do país esteve em alerta de emergência durante os últimos dias. A previsão é que sábado seja ainda pior. Enquanto isso o Primeiro Ministro Scott Morrison aproveitava suas férias no Havaí.
Leitura extra: 2019 wasn't just protests and Fleabag: it was the year a climate truth bomb dropped. (ou ‘Tem sempre uma festa no fim do mundo’)
Too hot for humans? First Nations people fear becoming Australia's first climate refugees.
Obs.: Todos os links são do The Guardian, juro que não é #publipost (risos), não tenho culpa se eles fazem uma ótima cobertura da Austrália e ajuda também o fato do site não ter paywall o que garante que todos vocês possam acessá-lo.
Amenizando o clima
Lembra da Mina Guaíba? O projeto para construir a maior mina de carvão a céu aberto do Brasil do ladinho de Porto Alegre? O Ministério Público Federal manifestou-se favoravelmente ao pedido para suspensão imediata do seu processo de licenciamento. É claro que isso não é o fim, mas é um passo na direção correta.
Decisão inédita na Holanda A Suprema Corte da Holanda decidiu hoje que o direito à proteção contra os efeitos da crise climática faz parte dos direitos humanos e que, portanto, é dever dos governos agir para garantir esses direitos. A decisão partiu de um processo aberto em 2013 por um grupo ambientalista do país contra o governo e confirma a decisão à favor do grupo em primeira e segunda instância. A Suprema Corte confirmou também a ordem dada em 2018 para que até 2020 (sim, nos próximos 12 meses) o governo faça um corte de 25% nas emissões de gases de efeito estufa do país em comparação àquelas de 1990. Ambientalistas esperam que a decisão abra um precedente para casos semelhantes em outros países, principalmente outros membros da União Européia.
Super-árvores Uma leitura mais tranquila para a época das festas de fim de ano é essa matéria interativa da Vox sobre 3 árvores super-heroínas no combate ao colapso climático. Um delas é a Bertholletia excelsa, a nossa castanheira, endêmica na floresta Amazônica no Brasil e na Bolívia e que nos dá as castanhas-do-pará (apesar do Acre produzí-las em maior quantidade).
E por 2019 é isso. Sem gif hoje para aliviar o peso da internet, afinal, todo mundo merece terminar o ano mais leve.
Você pode aproveitar que está por aqui e deletar alguns e-mails da sua caixa também. Se quiser ir além e está pensando em um Natal mais verde, veja algumas dicas.
Lembrando que depois de lido este e-mail pode ser apagado e sempre que você quiser reler é só vir aqui ó: