Olá,
Depois de um passeio por futuros possíveis voltamos hoje ao presente, às notícias e aos futuros mais prováveis se continuarmos seguindo os mesmo trilhos.
Queria aproveitar e agradecer todo mundo que fez o último Clímax circular por aí, trazendo tanta gente nova e ajudando a crescer a comunidade.
Se é a sua primeira vez por aqui queria dizer que adoro trocar ideias e estou sempre disponível para ouvir sua opinião, sugestões ou só bater um papo, basta responder a este ou qualquer email do Clímax.
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Em alta: Gás metano
Nas últimas semanas o gás metano roubou os holofotes que costumam focar no gás carbônico.
Dois novos estudos apontam que as emissões de metano foram recordes em 2017 - o que já era esperado mas não confirmado - e tudo indica que continuam a crescer rapidamente. Os grandes culpados são a agropecuária (criação de ruminantes e produção de arroz irrigado), a produção de combustíveis fósseis e lixo, ou melhor, a decomposição de resíduos orgânicos. Na produção de combustíveis, cada vez mais as emissões vêm de vazamentos que poderiam ser evitados se houvesse mais regulamentação (ou preocupação das empresas).
O gás também é liberado de forma natural, em pântanos, por exemplo. No momento essas fontes representam menos da metade das emissões, porém, há uma grande preocupação que o aquecimento do planeta contribua para aumentá-las, o que pode acontecer com o derretimento do pergelissolo (permafrost), e vocês já sabem o quanto o Ártico anda quente.
Esse vídeo da NASA ajuda a visualizar a questão.
No fundo do oceano da Antártida já foram detectados vazamentos de gás metano de acordo com um novo estudo publicado na The Royal Society. É normal que o solo marítimo libere o gás, que pode ser decorrente da decomposição de algas de milhares de anos, mas normalmente ele é consumido por micróbios, o que não tem sido suficiente nessa região pois tais micróbios estão demorando demais para crescer. A principio não parece ser um efeito da mudança do clima, pois na região o oceano ainda não tem se aquecido, mas pode contribuir para a sua aceleração, pois é muito provável que o metano já esteja alcançando a atmosfera.
Se o metano está moda, que tal um greenwashing com ele? Com um vídeo engraçadinho - eu esperava mais de você Michel Gondry - e cientificamente incorreto - é o arroto e não a flatulência - o Burger King anunciou que estaria vendendo hambúrgueres de gado de baixa emissão de metano. Hmm… Na verdade é carne de apenas 30 bois que participaram de um projeto piloto da rede que ainda não foi revisado cientificamente, e os hambúrgueres especiais serão servidos em apenas 5 cidades “enquanto durar o estoque” que esta altura já deve ter acabado.
Eu acho ótimo que as empresas invistam em pesquisa para diminuir os impactos ambientais da sua cadeia de suprimentos, no caso os testes adicionam capim-limão ao alimento dado ao gado nos seus últimos 3 ou 4 meses de vida para facilitar a digestão. Melhor ainda quando a empresa se propõe a divulgar o método usado com outras empresas do ramo para que elas façam o mesmo, o que é o caso aqui também. Mas vamos combinar que está cedo demais para pedir biscoito, hein rei do hambúrguer?
Previsão do tempo para o futuro
Vocês lembram que no Clímax #27 eu falei de sensibilidade climática?
Relembrando: Sensibilidade climática é uma medida que representa o quanto a temperatura do planeta aumenta se duplicarmos a quantidade de CO2 na atmosfera em relação a números pré-revolução industrial.
Eu mencionei que cientistas andavam preocupados pois diversas novas modelagens estavam indicando que a sensibilidade era maior do que o que se considerou nos últimos 40 anos, mais especificamente 5 graus Celsius ao invés de 3 graus. Pois bem, trago boas e más notícias.
Um grande estudo publicado na semana passada na revista científica Reviews of Geophysics explorou evidências de três áreas diferentes para fazer um novo cálculo da sensibilidade climática, conseguido refinar a faixa de aumento de temperatura possível na qual confiamos desde 1979.
Pera lá, faixa? Mas não era um número exato: 3 graus Celsius? Lembre-se que falamos de ciência e em ciência nada é tão simples. O número 3 na verdade significa uma faixa entre 1,5 e 4,5 graus, e agora temos uma faixa ainda menor.
A boa notícia é que os cenários de temperaturas mais altas parecem cada vez menos prováveis, a má notícia é que os melhores cenários também. A probabilidade daqueles 5C parece bem mais distante. No entanto, agora parece quase certo que será impossível mantermos o aumento da temperatura abaixo de 2 graus Celsius se duplicarmos o CO2 na atmosfera, e algumas previsões nos veem chegando nessa marca já em 2060.
A nova faixa nos coloca entre 2,6 e 3,9 graus Celsius com 66% de confiança (como a faixa de 1979), ou 2,3 a 4,7C com 90% de confiança.
O estudo, elaborado por 25 cientistas de instituições do mundo todo, foi muito bem recebido pela comunidade científica. O resultado sugere confiança por se basear em três grupos diferentes de evidências: registros paleoclimatológicos, tendências de aquecimento contemporâneas, e diferentes feedbacks no sistemas climáticos (como a questão das nuvens).
Mais: A The Atlantic descreveu alguns detalhes desse projeto de pesquisa que começou há cinco anos em um castelo na Bavária.
Subsídios para agricultura vão na contramão da promoção da sustentabilidade no setor
Nos países com as maiores produções agrícolas do mundo os governos gastam em média 600 bilhões de dólares por ano em subsídios para a agricultura. Porém, de acordo com um novo estudo do Banco Mundial, a maioria desse dinheiro não contribui para um aumento na produtividade e muito menos para diminuir as emissões de gases de efeito estufa do setor que é responsável por quase 1/4 das emissões globais. Esses subsídios ainda tendem a beneficiar grandes produtores em detrimento dos menores e mais pobres, além de estimular o uso fertilizantes.
Curiosamente, ao sugerir bons exemplos de como usar o dinheiro de uma forma mais sustentável, o estudo menciona o Brasil e uma política que condiciona empréstimos agrícolas de baixo valor a propriedades e municipalidades que conseguiram controlar o desmatamento. Outras sugestões incluem o financiamento de projetos de pesquisa com a participação conjunta de cientistas e agricultores e a criação um sistema de empréstimos com pagamentos maiores baseados na performance ambiental do beneficiado.
Incentivo governamental a agricultura sustentável também é uma recomendação das Nações Unidas de acordo com quatro de suas agências, PNUMA, FAO, IPCC e PMA, em um documento sobre a reconstrução das economias pós crise do COVID-19.
Mais: Assista a série de vídeos do Greenpeace "Você sabe de onde vem a sua comida?" que conecta a produção de alimentos com a crise climática e a destruição das nossas florestas.
Amenizando o clima
Esperança para os corais Cientistas descobriram um grande grupo de corais resistentes à crise climática no Mar Vermelho. Os corais do Golfo de Aqaba foram testados em águas de temperatura até 7 graus acima do máximo presenciado no verão e apresentaram uma performance fisiológica ainda melhor na temperaturas mais altas. Para comparação, a barreira de corais da Austrália começa a morrer após uma semana com o mar aquecido em apenas 1 grau. Se essa descoberta poderá ajudar os corais em outras partes do mundo ainda é difícil saber, pois o transplante de corais para outros recifes, por exemplo, não é um trabalho fácil ou garantido. Mas podemos celebrar que pelo menos em um lugar do planeta os corais ainda estão seguros do aquecimento dos oceanos, embora ainda corra outros riscos por se localizar em uma região de conflitos e onde usinas de dessalinização tem se tornado uma solução comum para o problema da falta de água.
Evitar novas pandemias sai mais barato do que as perdas da crise atual Um grupo de especialistas em infectologia sugere um plano de prevenção de pandemias baseado em ações ambientais em um artigo publicado na revista Science. Calculou-se que o plano - que inclui combate ao tráfico de animais silvestres e ao desmatamento, entre outras ações - custaria entre 22 e 31 bilhões de dólares por ano, uma fração mínima do custo da atual pandemia que está estimado em 27 trilhões. De acordo com os cientistas, uma das ações mais importantes é a prevenção da destruição das florestas tropicais, que além de proteger a biodiversidade também colaboraria para a mitigação da mudança do clima.
Leitura extra
União Europeia aprova pacote de estimulo verde pós-COVID de 500 bilhões de Euros, o que Greta Thunberg chamou de migalhas. / Bloomberg Green
Até 2040 triplicará a quantidade de plástico chegando aos oceanos, atingindo um acúmulo de 600 milhões de toneladas. / Reuters
O especial Desertos Brasileiros nos mostra Gilbués, no Sul do Piauí, o epicentro da desertificação do nordeste brasileiro. / Projeto Colabora
Para onde irão os refugiados climáticos? A ProPublica e a revista do The New York Times se juntaram com o apoio do Pulitzer Center para responder essa pergunta. O resultado será uma série em três partes cuja primeira já está online. / ProPublica
Esperança de regularização faz com que grileiros transformem castanhais em pasto no AM. / Folha de São Paulo
Quando não agimos para controlar a crise climática colocamos o peso nos ombros das novas gerações que acabam sacrificando sua adolescência para se dedicar a uma luta que não deveria ser deles. O The New York Times seguiu a Jamie Margolin e descreve a rotina desses jovens ativistas na matéria The Teenagers at the End of The World. / The New York Times
A matéria A Front-Row Seat for the Arctic’s Final Summers With Ice narra a história de dois navios cruzando o Ártico neste verão do hemisfério norte, um retrato da disputa pelo futuro da região. Um dos navios transporta gás natural e o outro uma equipe de cientistas na maior expedição polar da história, em busca de um melhor entendimento da mudança climática. / Bloomberg
Para onde está indo o dinheiro investido pelos governos para remediar os efeitos do COVID? Para políticas energéticas limpas ou sujas? Várias instituições se juntaram para monitorar as políticas adotadas pelos países do G20. Para o Brasil o Inesc é o responsável e o resultado, em constante atualização, pode ser visto no Energy Policy Tracker.
Obrigada pela companhia e até breve!
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