Clímax #24: O que é essencial? Vamos conversar?
Olá,
Na semana passada tivemos mais uma confirmação de que se não estamos a gritar o tempo todo existe quem ache que pode fazer o que bem entender com o país. Se há um momento em que algo deve ser dito, o momento é este. Mas o que dizer quando a cabeça está em giros, sem conseguir processar tudo o que vê?
Recentemente, em um mesmo dia uma pessoa querida me disse que estava faltando otimismo nas últimas edições do Clímax e outra me mandou uma entrevista com o paleontólogo espanhol Juan Luis Arsuaga que termina com ele dizendo: Es que el pesimista no hace nada. Es un egoísta que se justifica. Un egoísta que utiliza el pesimismo como coartada para no hacer nada. El optimista es el que cambia las cosas. El pesimista no cambia nada. El predicador tampoco.
Talvez eu não esteja conseguindo dizer muito justamente porque não tenho encontrado otimismo para poder compartilhar. Cada vez que leio alguém dizer que esta crise é a grande oportunidade que nos faltava para mudarmos, para cada um que fala que não voltaremos ao normal porque o normal é o problema, vejo alguém que vê mais riscos em ser obrigado a usar uma máscara em público do que em usar um medicamento que a grande maioria dos médicos não recomenda, que acha correto levar armas para reclamar seu direito de abrir lojas ou de fazer crossfit.
Não é fácil ser otimista sozinha, eu acredito que o otimismo é algo que se cria em comunidade. Será que vocês podem me ajudar? Estamos todos precisando de mais conversas, mais diálogos e hoje eu vou pedir que vocês interajam comigo (morrendo de medo que ninguém apareça). Na sequência deste email vocês receberão outro no formato de uma thread que é a ferramenta que o Substack, o serviço de publicação que eu uso, oferece para promover essa interação. Clicando no botão “Like and Comment” você será levadx à uma página onde poderá participar. O tema proposto para o debate será o que falarei no resto deste email, e vocês podem escrever quando quiserem à partir do momento que receberem a thread, mas entre 15h e 16h de hoje eu estarei de olho lá comentando, respondendo e discutindo com vocês.
Nessa busca pelo otimismo eu tenho tentando reverter a lógica que estava regendo as minhas ideias e ao invés de pensar em tudo o que está me incomodando e o que me faz falta neste momento, tento focar exatamente no que não me fez falta nos mais de dois meses trancada em casa. É um jeito de pensar no futuro e no que eu vou poder cortar da minha vida mesmo depois que a pandemia passar.
O coronavírus está trazendo à tona para muita gente essa questão do que realmente importa, e de uma forma mais ampla perguntas similares têm aparecido constantemente em debates na esfera pública também.
Conduzir uma prova do ENEM quando muita gente não está tendo aulas é essencial? Ir à academia ou ao salão de beleza é? Ter pelo menos R$600 por mês é e para quem? Ações policiais em favelas são essenciais? Saúde pública? Renda básica? Ter um ministro da saúde durante uma pandemia é essencial ou tudo bem o segundo país com mais casos da doença ficar quase 15 dias sem um?
O que buscamos de verdade é: O que afinal é essencial? Com o que podemos viver sem? Não só agora quando tudo parece difícil e o distanciamento é nossa melhor opção mas sempre. Antes e depois.
A minha reflexão individual é bem focada em consumo. Não aquela velha ideia popular do que é consumismo, baseada em transações financeiras e bens materiais e representada por guarda-roupas cheios e garagens lotadas de carros luxuosos. Mas pensando que todas as nossas atividades consomem alguma coisa - nem que seja calorias - e que eu quero consumir apenas o que fizer sentido.
“What Is Essential” de Russ Rowland, Museum of the City of New York, via New York Times
A crise climática escancara a necessidade de consumirmos menos. Quando falamos em consumir menos combustíveis fósseis falamos em consumir menos energia que por sua vez significa consumir menos qualquer coisa que dependa de energia para existir, e o que neste planeta não depende?
Nunca pararemos de consumir por completo. Algumas coisas são necessárias para nossa sobrevivência e outras para dar sentido a vida. Por isso é tão importante identificarmos o que não é, o que podemos deixar de consumir ou consumir menos, e o que é, para que todos possam usufruir da melhor forma possível.
Eu quero saber o que você tem pensado sobre isso, se as mudanças trazidas pelo coronavírus te trouxeram também mais clareza sobre o que é essencial para você e para a sociedade. Vamos conversar? Dá uma checada no próximo e email e espero que juntos possamos criar um pouco de esperança e otimismo.
Obrigada!