Clímax #18: Tentando não falar de COVID-19. Plásticos e o clima em 2019.
Olá,
Semana passada eu já achava que o novo coronavírus era o assunto do momento, mas nos últimos dias a conversa cresceu numa velocidade ainda mais rápida do que a confirmação de casos no país e provavelmente é só o que você tem ouvido falar.
As comparações entre a crise climática e a pandemia também cresceram, principalmente discussões sobre o que uma pode aprender com a outra. Rolou até meme dizendo que a crise climática precisa contratar a assessoria de imprensa do COVID-19. Também teve quem olhou para impactos menores da disseminação do vírus no meio ambiente, como a preocupação de contaminação pelo uso de utensílios reutilizáveis levando à um aumento do uso de descartáveis, a poluição do descarte das máscaras, o aumento do uso de bicicletas para evitar o transporte público, etc.
Greta Thunberg pediu a suspensão das greves escolares nas sexta-feiras, para evitar aglomerações que aumentam o contágio. Por isso hoje acontece uma greve virtual, com os estudantes postando fotos suas com cartazes nas mídias sociais.
Mas que semaninha, né? E sem melhora à vista.
Por isso, não falarei mais do vírus no Clímax de hoje. Acho que já falei o suficiente na semana passada. Também não mencionarei a crise econômica pois acredito que você deve estar precisando de uma pausa desses assuntos nem que seja por uns minutos e nem que seja para ler notícias que também não são boas.
Sinceramente, eu também estou precisando, quase cancelei este nosso encontro semanal para evitar a aglomeração.
Se estiver sentindo falta de um pouco de otimismo leia Don’t forget: disasters and crises bring out the best in people, e relembre que milhões de pessoas estão se esforçando para que o COVID-19 não leve o melhor de nós.
Cuidem-se!
Se forem ficar mais em casa - o que eu recomendo - sem saber o que fazer e quiserem se preocupar com outras coisas, que tal ler edições passadas do Clímax?
E que tal sugerir que seus amigos façam o mesmo?
Climão da semana
Confirmado que 2019 foi o segundo ano mais quente já registrado e julho passado o mês mais quente A Organização Mundial de Meteorologia, uma agência das Nações Unidas, divulgou nesta semana o seu relatório sobre o estado do clima global em 2019, confirmando alguns dados já reportados e trazendo novos alertas. De acordo com o relatório, os oceanos absorvem 90% do aquecimento e 23% do excesso de emissões de carbono, o que faz com que estejam hoje 26% mais ácidos do que no começo da revolução industrial, um problema sério para o ecossistema marinho. É mencionado ainda o impacto social dessas mudanças, salientando que depois de uma década em queda a fome volta a crescer no mundo, afetando 1 em cada 9 pessoas.
O nosso Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) também divulgou o seu relatório do clima em 2019 no Brasil, concluindo que foi o ano mais quente já registrado por aqui, com uma média de temperatura máxima (diurna) de 31,05C e uma média de temperatura mínima que também aumentou ficando em 20,04C.
Trocando combustível por plástico Falamos muito no papel das empresas de petróleo e gás na crise climática e o foco é quase sempre nos combustíveis, mas essas empresas cada vez mais contam com outras formas de usar o material para lucrar e consequentemente emitir gases de efeito estufa. Em 2015, por exemplo, 1/4 dos lucros da Exxon vieram da sua divisão de petroquímicos ou basicamente da fabricação de plástico em suas mais variadas versões. A fatia só tende a crescer.
O grupo de pesquisa energética International Energy Agency prevê que até 2050 o consumo de petróleo para produção de plástico - que atualmente corresponde a 14% da demanda mundial - excederá o consumo para combustíveis de automóveis.
E se antigamente o plástico só podia ser feito de petróleo, hoje também pode ser feito de etano, um produto da extração de gás de xisto, assim, as duas indústrias (gás e óleo) podem continuar lucrando com a sua matéria prima mesmo que a demanda por combustíveis diminua. Até porque, mesmo com a maior conscientização dos impactos do plástico no meio-ambiente que vemos hoje, a demanda por ele só cresce.
Um relatório do Center for International Environmental Law (CIEL) concluiu que as emissões da indústria de plásticos cresceram 15% entre 2012 e 2018. No último ano, a produção e a queima de plásticos emitiu a mesma quantidade de carbono que 189 usinas de carvão.
Dr Fatih Birol, Diretor Executivo, IEA
Por hoje será só, você já tem o bastante para se preocupar.
Semana que vem quem sabe já seja mais fácil falar da bola de neve de crises que é o ano de 2020. Até lá continue lavando suas mãos com frequência!
Tchau!