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Olá Bibiana! Gostei muito da reflexão sobre maternidade, é uma questão para mim e nunca tinha parado para fazer a reflexão como limitar os direitos reprodutivos pesa ENORMEMENTE nas mulheres. Em relação com minha vida pessoal a crise climática afeta principalmente relacionamentos amorosos. Antes de iniciar uma relação um dos fatores que avalio é a disposição da pessoa em ser compreensiva (ou também seguir) com algumas escolhas de vida, como por exemplo vegetarianismo, reciclar, utilizar utensílios reutilizáveis. Parece besteira mas quando o/a companheir@ mostra o menor menosprezo sobre essa questão doí no peito. Também muda a forma que me apresento nos relacionamentos em geral, já me peguei várias vezes falando "sou vegetariana, mas não vou tentar converter você". Queria agradecer a newsletter, as referencias maravilhosas que trás, e as novas perspectivas (mais empáticas) que a graduação em biologia não trouxe. Obrigada!

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Para mim uma das minhas maiores questões com a crise climática são meus transtornos alimentares e de imagem. Há mais de 10 anos flerto com o vegetarianismo, por saber do impacto da pecuária no meio ambiente e de como esse alimento também nos impacta. Atualmente acho lindo o movimento vegano, mas cada vez que tento lidar com essa mudança de alimentação, todos os gatilhos dos meus transtornos alimentares disparam, a ansiedade de comer "direito" me destrói e passa a ser uma tortura até eu correr pro primeiro pote de sorvete que cabe no meu bolso (obviamente não vegano) ou afogar minha angustia num hambúrguer bovino... Comer ainda é uma das minhas maiores crises climáticas pessoais

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Muito bacana, Biba. Qualquer uma dessas perguntas daria uma boa conversa noite adentro. Difícil colocar tudo o que eu gostaria de falar em algumas poucas linhas. São questionamentos que aparecem aqui em casa de forma recorrente, provavelmente pq nossa resposta seria que ainda muda, interfere e se manifesta muito pouco. Em relação ao texto, gostei da comparação da situação deles com a esposa do pastor. Vejo o mesmo acontecendo com diversos colegas onde a vida familiar gira em torno do trabalho de um deles. Não concordo com essa visão apocalíptica, tenho um otimismo bem grande com o mundo, com as pessoas e com a nossa capacidade de se adaptar. Vejo muita coisa legal sendo feita e acho que vamos conseguir nos reinventar.

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Eu me identifico bastante com o Peter Kalmus, o modo como ele se expressa no Twitter etc. Recentemente, em uma conversa com a Clare, do Extinction Rebellion (XR), ele comenta que, na verdade, é um nerd introvertido, sendo forçado a gritar nos megafones pela situação.

Eu também me sinto assim às vezes.

Eu sou monge e gostaria mais é de ficar quieto no meu canto meditando (rsrsrsr), mas me sinto forçado a fazer algo... É por isso que ajudo no XR também.

Não tem grandes dramas, mas às vezes pra mim também é desafiador, essa situação (como a do Peter) de você ficar tentando disseminar o fato de que estamos numa emergência, e as pessoas nem ligarem.

Isso é particularmente desanimador com pessoas do próprio movimento, que vão embora e perdem o ânimo com a mesma rapidez com que vieram...

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Jan 27, 2021Liked by Bibiana Haygert

Não vejo problema nenhum na matéria, entendo que a ideia era mostrar o conflito de um cientista, especialista no assunto, que nesse caso era um homem branco hétero e tal. Minha vida pessoal é bastante regida pelo meu conhecimento da crise climática. Mudei quase todos os meus hábitos nos últimos anos e em tempos de quarentena ficou mais fácil chegar perto do meu ideal de vida responsável. Sou de longe a pessoa mais preocupada com esse tema entre toda a minha família e todos os meus amigos. Me sinto desconectada das pessoas em geral, como se todas estivessem em uma espécie de transe. Preciso dosar o assunto para não afastar quem eu amo, e por mais que tenha tentado diversas abordagens diferentes, a resposta é sempre algo como 'não há o que fazer'. Uso o mínimo possível de plástico, cozinho em casa, como carne raríssimas vezes - talvez 2 ou 3 no ano passado - composto meu lixo, antes da pandemia ia trabalhar de bicicleta. Gosto de pensar que de alguma formo inspiro as pessoas à minha volta, mas a real é que vejo pouquíssimas mudanças acontecendo. Meu maior conflito é sem dúvida trabalhar com marketing, fometando consumo em um mundo doente. Há tempos penso em novas opções de carreira, mas ainda não encontrei uma forma de me sustentar totalmente alinhada com os meus valores. Em 2019, fiz terapia porque não conseguia me decidir se faria sentido ter um filho nesse mundo. Em poucos meses organizei minhas ideias, concluí que sim, engravidei e me dei alta. Haha Hoje em dia meu filho ocupa um espaço tão gigante no meu coração que fica difícil imaginar a vida antes dele. A maternidade chegou com muita ternura e abriu meus olhos para uma magia ainda mais profunda do que aquela que eu experimentava em contato com a natureza. Digo sem a menor sombra de dúvida que foi a minha melhor decisão e apesar de me preocupar muito com o futuro dele, uso essa incerteza para agradecer e valorizar cada dia que estamos vivos.

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Oi Bibi, obrigada por enviar este texto tão interessante e inspirador. Me deu alguns triggers com meu antigo relacionamento, especialmente essa coisa de não andar mais de avião. Super simpatizo com a história toda e me perguntei, do início ao fim do texto, como este casal continua junto. Eu empatizo mais com a Sharon, claro, porque deve ser um inferno viver com alguém que já está vivendo um inferno. Não tenho soluções pra gente não se enganar mais, claro, e vira e mexe penso sobre isso. E sim, coloco uma venda nos olhos, com a desculpa de que a gente precisa escolher as nossas batalhas e as minhas são outras. Mas a sensação de culpa, esta está sempre aqui.

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Olá Bibiana, obrigada por esse espaço, foi muito legal ler o depoimento de outras pessoas e me sentir menos sozinha. A consciência sobre a situação da crise ambiental mudou e muda minha vida pessoal em todos os âmbitos, principalmente com cada pequena escolha de consumo. Cada dia eu aprendo uma coisa nova e tento fazer alguma coisinha diferente, sabendo que o caminho é longo. Hoje eu compro pouca coisa no geral, tenho composteira, faço meus próprios produtos de limpeza, não como carne, uso shampoo natural em barra, compro comida num lugar q vende orgânicos a preço de custo de pequenos produtores, o qual tenho o privilégio de morar perto. É bem desafiador conciliar isso com relacionamentos de todo tipo, dos meus pais a meu namorado e amigos, pelo incômodo de ver que eles não são tão tocados por essas questões e não estão dispostos a fazer mínimas mudanças no estilo de vida que sejam mais coerentes com a realidade urgente que a gente vive. É chato ter que ser a "ecochata" do rolê, às vezes eu só guardo as coisas pra mim. Onde levei meu próprio copo pra tomar açaí num lugar perto de casa e o pessoal em volta me olhou como se eu fosse um ET haha é engraçado (e um pouco triste) pq são coisas muuuuuito pequenas. E tudo isso têm origem em questões muito mais complexas sobre a nossa perda de conexão com a nossa potência como indivíduo e consequentemente como coletivo. Enfim, essa é minha humilde experiência e reflexão. beijos e obrigada

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Eu sinto que a preocupação com a crise climática está presente em todas as minhas decisões, por menores que sejam. O que de forma alguma significa que eu sempretome as decisões mais positivas para o clima, mas o questionamento está ali, assim como a culpa.

Eu acho que uma das interferências mais extremas dessa preocupação na minha vida é na minha criatividade. Eu não me sinto muito no direito de criar e produzir coisas, é algo que eu questiono muito. Vale a pena fazer alguma coisa minha se tudo tem impacto? Qual o propósito?

Por exemplo, uma época eu bordava. Não sei mais dizer se era algo que me fazia bem ou não, mas a ideia era que fosse uma atividade relaxante e recompensante. Mas há algum tempo eu acho muito dificil justificar a necessidade de usar materiais e criar um objeto que não vai servir para nada. O utilitarismo bate forte nessa hora.

Eu entendo que a criação, a criatividade e arte são importantíssimas, são necessidades básicas do viver. Mas é tão dificil para mim encontrar os limites, principalmente quando se trata de algo meu. Aos outros sempre dou o direito de fazerem o que quiserem.

É claro que ai entra tb sindrome da impostora e outras questões intimas, tudo se juntando para me limitar.

Mesmo com a newsletter esse sentimento já apareceu muitas vezes, mas acho que agora está mais calmo.

É uma manifestação que eu mesma avalio como exagerada, no entanto, dificil de controlar.

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Jan 30, 2021Liked by Bibiana Haygert

Me sinto contemplada com os questionamentos.

Há 6 anos morava na minha realidade, com minhas regras, e a pandemia me chacoalhou tanto que percebi que o mais saudável seria voltar a morar com os pais na minha cidade natal, Cuiabá - MT.

Trazer os questionamentos p/ relações é um grande desafio. Se relacionar na verdade né?

Foi aí que trouxe a prática da compostagem e ensinei como fazer, mas não rolou. Se eu não faço ninguém faz. Antes eu levava isso como um desaforo, mas acontece que isso ainda não é prioridade p/ eles, ainda não há entendimento da problemática p/ eles e existe uma zona de conforto gigante que: "se a gente não fizer, a Ma vai fazer!" porque existe a clareza de que isso me importa MUITO!

Então hoje eu levo numa boa, não sinto culpa, desprezo ou desespero por eles não fazerem a parte que cabia. Transmutei isso pela honra em poder fazer!

Assim também sugiro a troca da culpa pelas viagens de avião (tenho um relacionamento à distância) pela mentalidade de que: eu estou fazendo o meu melhor. Se eu não me encontrar com meu parceiro minha sanidade vai lá em baixo, me complico com alimentações industrializadas muitas vezes e ao lado dele consigo me manter mais saudável. Juntos praticamos a compostagem, práticas regenerativas, diálogos regenerativos, construtivos, enfim...

Assim também é com o fato a alimentação. Não sou vegana, mas me questiono MUITO antes de me alimentar de derivados. Não só pelo rolê industrializado, mas pela forma como os animais, processos e até trabalhadores da indústria são tratados: será que quero essa energia comigo?

Assim busco minhas soluções: cosméticos naturais locais, tenho buscado meus orgânicos (ainda não é realidade, mas assim que estiver ao meu alcance será!), composto, não uso mais esmaltes, enfim... Meu mantra tem sido: "Estou fazendo o meu melhor hoje. Só por hoje." Afinal, só o hoje existe. O amanhã é uma dádiva ♥

Gracias pelos questionamentos Bibiana! Amei trocar aqui, fazia tempo que estava postergando também. O feito é melhor que perfeito =) Beijão

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Oi Bibiana, tudo bem? Obrigada pela newsletter e pelos questionamentos. Na verdade eles me atravessaram tanto que eu até escrevi sobre elas também aqui: https://aleatoria.substack.com/p/06-o-aspecto-pessoal-da-crise-climtica

Mas vou colocar aqui um resumo + coisas que pensei depois e não foram pra esse texto.

De imediato eu fiquei muito incomodada porque pensei: "nossa, não muda em nada, qual é meu problema?". Eu fiz uma leitura meio literal e fiquei pensando como se eu tivesse que ter um estalo a partir do momento que entendi a crise, ou se eu pensasse de forma direta sobre ela pra cada uma das minhas ações, mas não é bem assim. Assim como a crise climática, que veio se instalando "aos poucos", essas mudanças na minha vida também vieram aos poucos. Não tem um botão que ligou os impactos da crise climática. E não tem um botão que me fez mudar coisas na minha vida. Mas com o tempo o cenário foi mudando e eu fui assimilando hábitos ou ações que agora fazem parte do meu dia a dia.

Eu parei de comer carne, e isso teve um grande impacto porque trouxe muitas mudanças atreladas. Eu evito comer derivados de animais também, porque sinto que preciso boicotar o agronegócio o máximo possível.

Comecei a fazer compostagem. Me envolvi bastante com o movimento desperdício zero, repensei meu consumo de tudo. Pensar em decorar minha casa dói um pouco.

Repensei meu trabalho. Comecei a imaginar como posso servir, ajudar, trabalhar, qualquer coisa no combate às mudanças do clima. Nem que seja na adaptação e mitigação.

Estou morando numa região que gosto muito, e tenho pensado em comprar um apto nos próximos anos. Queria uma área externa pra alegria dos cachorros que ainda não tenho. Mas juro que me pergunto se é seguro numa cidade que alaga tanto como Belo Horizonte. Me pergunto qual andar de um prédio é mais seguro. Penso na importância de plantar pelo menos o mínimo possível em casa, pois quando a Amazônia chegar no ponto de não retorno, acredito que teremos uma crise alimentar grave. O quanto antes eu aprender a plantar de verdade, mais segura vou me sentir.

Já tentei convencer meus pais a mudar de casa, pois moram numa cidade litorânea bastante plana. Uma ilha, inclusive.

E tem a questão da culpa, que vi algumas pessoas comentando aqui e, pra mim, é uma coisa muito ambígua. Porque é importante a gente ter consciência de que precisamos de grandes mudanças sistêmicas (ou seriam anti-sistêmicas?), e aí costumo relevar algumas coisas pra não carregar a culpa do mundo nas costas (nas minhas e nas das pessoas com quem eu convivo que também querem fazer alguma coisa). Mas eu acho que a questão da culpa é uma linha muito tênue, porque a gente também precisa encarar essas dificuldades pra passar por elas, sabe? Eu entendo a importância de não se culpar, mas fico pensando muito em como se "ninguém" tem culpa, ninguém tem responsabilidade, e reflito muito sobre como conversar com as pessoas sobre isso. Não vamos culpar o indivíduo, mas então o que e como vamos fazer pra envolver quem pode mudar de verdade e contribuir pra gente sobreviver aos desafios que a crise climática traz? Acho que essa é minha maior questão no momento.

Ai falei demais, mas o tema é complexo, e as reflexões sobre ele também. Um abraço e obrigada por levantar a questão e abrir esse espaço de troca :)

Júlia

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Mar 14, 2021Liked by Bibiana Haygert

Engraçado. Comecei a ler esse texto ha um mes atras mais ou menos e não consegui dar continuidade por conta dos gatilhos. Hoje, numa vibe mais leve, voltei e primeiramente: que bom que li.

A crise climática tem afetado minha vida há algum tempo. Inicialmente, me engajei em mudanças de estilo de vida que me proporcionaram muito bem-estar. Alimentação, consumo, busca de propósito profissional, espiritualidade, diminuição do lixo, reciclagem e aproximação com a natureza. Me aproximei de territórios indígenas em movimentos de permacultura e a partir disso minha percepção sobre minha existência mudou bruscamente. Depois de um tempo me vi perdida e em desequilíbrio, comecei a correr desesperadamente para ser um problema a menos e trabalhar na arrumação da bagunça, o tempo todo com muita culpa por existir e por fazer parte desse sistema que destrói vidas.

Esse processo todo aconteceu longe da minha família, que já notava mudanças drásticas em mim e se preocupava muito com minhas escolhas que, apesar de estarem pautadas em algo maior, precisavam de mais equilíbrio e embasamento para serem sustentáveis.

Apesar de tanta correria sentia que nada estava adiantando, os hábitos, que eram para estar saudáveis, ficaram péssimos. Não voltei aos antigos mas já não tinha mais forças para cuidar desse novo "eu", emagreci bastante, fiquei muito deprimida, meus relacionamentos começaram a ser afetados, e cheguei ao ponto de não conseguir mais dar conta da minha própria existência e consequentemente me afastei das causas e quanto maior a distância, maior a angústia.

Voltei para a casa dos meus pais na pandemia e aqui os hábitos são outros, a cidade é outra (saí de Floripa e estou em SP), no início achei que fosse morrer por me ver apenas como um peso na Terra e permaneci assim por um tempo. Entrei no pior buraco que ja pude estar nesses 31 anos de experiencia de vida. Ainda tem dias que é muito difícil raciocinar, mas essa loucura toda têm me mostrado que a única bússola possível para tudo isso é o amor. Por mais clichê que isso possa parecer. Ainda dói ver meu pai lavando a louça com a torneira ligada, se alimentando mal, sentir a energia indo embora por insistir na separação do lixo, encarar as próprias ignorâncias e egoísmos, mas também deu pra encarar a necessidade da aceitação e da acolha, pois todos os dias, até agora, tenho acordado viva e cheia de cuidados e carinho por parte da minha família, todos estamos com saúde num momento em que muitos não estão conseguindo nem escolher seu alimento. Apesar de todas as diferenças, estamos aqui, um ao lado do outro, para o que der e vier. Aos poucos estou me recuperando e toda essa mudança que eu continuo a acreditar só é possível e só faz sentido quando imagino que todos estejamos juntos. O que não significa que estaremos compreendendo e sentindo o mundo da mesma forma. Acredito que podemos equilibrar nossas ansiedades nos concentrando primeiro em sermos gentis com nossos processos e quando se trata da nossa relação com o outro, acho que devemos nos dar o direito de colocar energia naquilo que nos atrai e não no que nos afasta. Começamos a cuidar mais das plantinhas em casa, estamos nos reunindo mais para as refeições, caminhando pelo bairro juntos, arrumando alguns cômodos, enfim.

Nada de fórmula mágica nem fogos de artifício e longe de c*gar regra, até porque as ansiedades ainda estão aqui. Estou sem exercer atividade remunerada há mais de um ano, continuo com dificuldades de me relacionar e sinto minha saúde mental frágil. Mas sei lá, parece um belo momento pra gente pegar leve e se abraçar. Quase ninguém tá bem.

Me parece compreensível a tendência em sair por aí correndo gritando quando a gente entende o buraco que estamos enfiados por conta dos maus tratos a natureza, porém ela ocorre em várias escalas. A minha natureza, a tua natureza e a nossa natureza. Sustentabilidade também se trata de respeito aos processos pessoais. Sair de uma opressão para entrar em outra não faz sentido.

- ter empatia não é passar pano

- por menos cancelamentos e mais conversas honestas

- estamos, realmente, todos juntos. A gente querendo ou não.

Gratidão por seu trabalho e pelo espaço s2

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